Para a realização deste projeto, inicialmente tivemos que adquirir uma noção básica sobre soldagem e circuitos. Logo nas primeiras aulas, fomos apresentados ao equipamento de solda, para que pudéssemos começar a montar nosso próprio circuito de gerador de som e após isso, começar a estudar sobre cada componente destes circuitos como sensores, resistores, dildo, chips entre outros. Então compramos um rádio e fomos desafiados a se familiarizar com seu circuito, sendo mais específico, tivemos tempo para mexer no circuito a procura de sons estranhos e distintos, que não faziam parte da função do objeto. Isso porque todo circuito possui pelo menos dois pontos que provocam este tipo de som e tivemos a necessidade de acha-los para que pudéssemos continuar com o projeto, cuja inspiração partiu da Cracklebox ou Kraikdoos, uma caixa que funciona como uma espécie de sintetizador de som. Durante nossos testes no circuito do rádio, foram achados apenas dois pontos, que combinados juntos produziam um som agudo e bem alto.

Depois de achados e identificados os pontos, passamos para a fase dois do projeto, que consistiu no brainstorm, ideias de objetos que poderíamos utilizar e alterar para ter um significado, servir como um objeto interativo e mais que isso crítico. Entre os objetos pensados, surgiu a bola e junto com ela a vontade de trabalhar com uma crítica a situação ocorrente no Brasil, isto porque pensando no som, ele era irritante e forte o suficiente para ser retratados como a voz do povo, ou a própria voz dos torcedores, das buzinas e de todo o barulho que os jogos proporcionam. No entanto precisávamos pensar em objetos que melhor representassem o conceito que prezasse a experiência do usuário, sua interação com o objeto. Após alguns desenhos chegamos à ideia de utilizar um matraquilhos, para se aproveitar de um objeto que as pessoas já sabem como interagir e pela simbologia com o jogo e os estádios.

Foi ai que começamos finalmente a montar o objeto, primeiramente soldamos dois crocodilos, nos dois pontos achados no rádio, ligamos aos pegadores do matraquilhos e testamos o som, pegando com ambas as mãos e de diferentes formas possíveis para ter certeza de que o material iria conduzir e fazer o som conforme era desejado. Após obter sucesso nas tentativas, começamos a pensar no contexto do objeto em si, como modificaríamos aquele matraquilhos para se transformar de um objeto comercial e barato a um objeto distinto que chamasse a atenção para sua crítica. Tivemos inúmeras ideias, no entanto tivemos de ter cuidado para que seu exterior não confundisse ou roubasse a atenção do som, que verdadeiramente era o foco do projeto. Então optamos por pintar todas as partes do matraquilhos de preto, exceto o campo, para dar o sentimento de luxo, imparcialidade e luto.

Depois de objeto pintado e montado, começamos pensar onde ficaria instalado o rádio e nesse meio tempo algumas complicações surgiram, a primeira preocupação foi com relação ao cuidado para que os fios não se rompessem, tivemos de comprar argolas que permitissem o usuário a girar os jogadores do matraquilhos e a segunda preocupação foi com a compra de um novo rádio idêntico ao que já tínhamos para realizar o mesmo processo, de modo que dois jogadores pudessem utilizar ao mesmo tempo os dois lados do objeto. Grudamos os dois rádios na parte de baixo do objeto e os crocodilos conectados nas argolas junto aos pegadores do jogo. Após isso demos voltas com fita adesiva de “não ultrapasse” em todo o matraquilhos, para dar a ideia de que algo está errado, que não é um jogo comum, não é permitido jogar, a propósito além dos confrontos com a polícia, as notícias sobre estádios inacabados, uma boa parte do Brasil ainda gritava “Não vai ter Copa!”. Tivemos o cuidado para grudar os fios dos crocodilos junto às paredes e então o nosso matraquilhos finalmente estava terminado e pronto para ser posto a prova.
O Processo
Responsáveis pelo Projeto: Adriano Marques, Barbara Nicolau e Valéria Romano
FBAUP - Laboratório de som e imagem